quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(Augusto dos Anjos)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os vivos e os mortos

  Como povos de todo o mundo lidam com a morte

       Não usar preto num funeral parece falta de respeito com falecido. O preto reflete o luto e a solenidade de tão sombria ocasião mas este costume nasceu por um motivo bem diferente – não por respeito, mas antes por simples receio do morto.
       Nossos antepassados acreditavam que o fantasma só falecido ficava perto do cadáver e se sentia tão solitário que era capaz de tentar agarrar um dos vivos para arranjar companhia, se houvesse oportunidade. Poucos queriam sofrer esse destino, e por isso todos se vestiam das mesmas cores escuras para não chamar a atenção.

       Para evitar problemas

        O medo dos fantasmas ditou vários costumes curiosos. Nos funerais dos índios norte-americanos, o parente mais próximo do falecido escapulia mais cedo, enquanto o fantasma ainda observava a cerimônia, para evitar ser apanhado. Nos funerais dos índios Sacs ou Fox, os parentes tinham o cuidado de pôr alguma comida ou peça de roupa na sepultura, o que evitava que o espírito aparecesse da noite para cobrar as oferendas. 
 Em algumas partes do mundo, o corpo sai do velório por uma janela e não pela porta; desse modo, espera-se confundir o fantasma e evitar que ele encontre o caminho de volta para casa. E na China, os acompanhantes costumam explodir pequenas bombas no regresso de um funeral para repelir o espírito do falecido.
        A ideia foi levada ao extremo pelo povo Yakut, da Sibéria. Entre eles, a pessoa que estava morrendo tinha a comida mais requintada e o melhor lugar na festa do seu funeral antes de ser levada e enterrada viva.  
       Alimentos e bens – até um cavalo para facilitar a viagem para o outro mundo – eram enterrados com ela, de modo a não ter justificativa para regressar a casa. As roupas pretas dos funerais da Europa e da       América atualmente não são as únicas lembranças deste antigo e profundo medo dos mortos. As moedas que os agentes funerários punham nos olhos dos cadáveres não serviam só para mantê-los fechados, eram o preço da passagem do espírito para o outro mundo.
        E se as orações fúnebres parecem demasiado lisonjeiras para o falecido, pode ser por algo mais do que um desejo de prestar homenagem. Talvez ainda partilharemos o antigo receio inconsciente de que em algum lugar próximo ouvidos inversíveis mas atentos estão escutando cada palavra. 



Fonte: Você sabia? - Reader's Digest

quarta-feira, 13 de abril de 2011

PINTURA "FORE-EDGE"

A pintura For-Edge, é uma arte feita no corte, ou cortes do livro, quando muito bem prensado, e       
  somente visível inclinando as páginas, em estado normal, não é possível ver a pintura,   
   esta arte também é chamda de "pintura invisível". 





Pintura For-Edge, ou Invisível, no corte lateral, superior e inferior.




quinta-feira, 31 de março de 2011

A casa da memória

De partituras centenárias a peças de artesanato, Biblioteca Nacional soma 540 mil , de direito autoral desde 1896, 19% deles só nos últimos quatro anos, como mostra levantamento feito para o GLOBO.

    O Brasil é um país composto majoritariamente de poetas, um tanto de músicos, um pouco de roteiristas e quase nada de romancistas.O Brasil é um país com cerca de 540 mil registros nos mais de cem anos de serviço de seu principal órgão para a inscrição de direito autoral, a Biblioteca Nacional. É uma material que serve como memória intelectual da sociedade, e cuja análise ilumina os hábitos de criação do brasileiro num momento em que se discute tanto a importância do direito do autor.
    Um levantamento feito pelo Escritório de Direitos Autorais (EDA) da Biblioteca Nacional, a pedido do GLOBO, mostra como a procura pelo cadastro auroral vem crescendo ao longo das décadas. O serviço foi instituído há 115 anos, mas 19% do total de registros foram realizados de 2007 até hoje. O primeiro livro de tombo, como é chamada a publicação em que se arquivam as informações sobre cada registro, teve 500 itens e demorou dez anos para ser preenchido. Hoje, a biblioteca precisa abrir um novo livro em pouco mais de dez dias.
   - O boom do registro autoral ocorreu por volta de 1995 - diz Rejane Schneider, servidora responsável técnica pelo EDA. - O Brasil passou por uma onda de cidadania após os anos Collor (1990-1992), e isso fez com que as pessoas percebessem que deveriam exigir seus direitos e tornou nosso setor mais popular.
O registro de direito autoral no Brasil teve início em 1896, com a Lei 496, do escritor e deputado pernambucano Medeiros e Albuquerque, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Tratava-se da primeira norma específica para o tema no país. Desde então, cabe à Biblioteca Nacional receber romances, poemas, letras e partituras de músicas roteiros, ilustrações, fotos ou qualquer outra categoria de obra impressa. Além do EDA, outros órgãos aceitam o cadastro de obras intelectuais: a Escola de Música da UFRJ, para músicas; a Escola de Belas Artes da UFRJ, para esculturas, pinturas e a produção artística em geral; e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, para projetos em seus campos e afins.
    Depois que uma obra é registrada, o documento entregue à instituição responsável passa a pertencer ao Estado. Isso quer dizer que nem mesmo seu autor tem acesso ao conteúdo diretamente: caso queira utilizar a obra, ele precisará pagar por uma cópia por isso, os funcionários do EDA sugerem que as pessoas não deixem seus originais, mas nem sempre funciona. Nos arquivos da biblioteca, há originais de fotos, ilustrações e até diários. Não tem muito tempo, um senhor chegou ao escritório com um livro de quadrinhos, todo desenhado à mão, e o entregou às atendentes. Resultado: nunca mais verá o livro.
    Cada registro custa entre R$ 20 (texto) e R$ 60 (imagem colorida) para pessoas físicas, mas é possível inserir sob o mesmo número mais de uma obra. Há um caso de uma pessoa que cadastrou mil volumes de uma vez num único registro, pagando a mesma quantia de quem registra um. Ou seja: a quantidade de obras guardadas na biblioteca pode ser duas, cinco ou até dez vezes maior que 540 mil registros.
- No arquivo, temos desde partituras de Chiquinha Gonzaga, do início do século passado, até uma peças de artesanato feita em lã, com quatro coelhos bordados à mão. Eu chamo de família coelho - conta Rejane. - O registro de direito autoral é uma casa da memória brasileira.

Continua...