"Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajeto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projeto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples ato de respirar.
Estejamos vivos, então!»
Pablo Neruda
Mostrando postagens com marcador Rabisco de livro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rabisco de livro. Mostrar todas as postagens
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Um pouquinho de Emma...
"Com cautela, com muita cautela" pensou Emma;
"ele avança pouco a pouco,
e não arriscará nada até
sentir-se seguro."
Emma - Jane Austen
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
"Quando Morgana deixou a corte de Artur, em Caerleon, pedindo licença apenas para fazer uma visita a Avalon e à sua mãe adotiva, pensava em Viviane - pois assim, evitava lembrar-se do que acontecera a ela mesma e a Lancelote. Sempre que as recordações a levavam nessa direção, sentia como se estivesse sendo queimada com o ferro em brasa da vergonha: oferecera-se a ele com toda a sinceridade, à maneira antiga, ele não quisera dela mais do que brincadeiras infantis, que era um escárnio à sua feminilidade. Não sabia se a irritação era contra ele ou contra ela própria, mas sabia ser motivada pelo boato de ter Lancelote brincado assim com ela, e por tê-lo desejado tanto..."
As brumas de Avalon - A grande Rainha
É, Morgana, sei bem como você se sentiu.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
IDADE DO SONHO
Tens perfil de alameda. Nos teus olhos correm
gotas de luz e mel, a procurar o dia,
e como a terra e o mar, que estranhos se percorrem,
és líquido e perene em minha fantasia.
De ti, uma pantera surge no menino
em que descansas. Braços de floresta antiga
são teus gestos de musgo onde teço meu hino
e em teu mistério verde o meu medo se abriga.
Por certo vou temer-te. És pântano selvagem
embora de doçura; se eu seguir teu rumo
afundarei sozinha em névoas de miragem.
Para poder tocar-te é necessária a idade
do sonho. Mas em vão eu ando e te resumo
pisando em minha volta a espessa realidade.
Lupe Cotrim
Tens perfil de alameda. Nos teus olhos correm
gotas de luz e mel, a procurar o dia,
e como a terra e o mar, que estranhos se percorrem,
és líquido e perene em minha fantasia.
De ti, uma pantera surge no menino
em que descansas. Braços de floresta antiga
são teus gestos de musgo onde teço meu hino
e em teu mistério verde o meu medo se abriga.
Por certo vou temer-te. És pântano selvagem
embora de doçura; se eu seguir teu rumo
afundarei sozinha em névoas de miragem.
Para poder tocar-te é necessária a idade
do sonho. Mas em vão eu ando e te resumo
pisando em minha volta a espessa realidade.
Lupe Cotrim
sexta-feira, 12 de março de 2010
Trechos do conto Lilith, de Anaïs Nin
Lilith era sexualmente fria, e seu marido em parte o sabia, apesar das simulações dela… Eles estavam sentados ali, juntos, e ela a olhava com uma expressão de suave tolerância, a mesma que costumava manter diante das crises dela, crises de egotismo, de autocensura, de pânico. A todos os seus dramáticos comportamentos, ele respondia com inabalável bom humor e paciência.Ela sempre enfurecia-se sozinha, irritava-se sozinha, suportava sozinha suas intensas convulsões emocionais, das quais ele nunca participava. Possivelmente, tratava-se de um símbolo de tensão que não ocorria entre eles sexualmente. Ele recusava todos os seus primitivos e violentos desafios e hostilidades, recusava-se a entrar com ela nessa arena emocional e a reagir à sua necessidade de ciúmes, temores, conflitos.Talvez se ele tivesse aceitado seus desafios e jogado os jogos que ela gostava de jogar, talvez então ela poderia ter sentido sua presença com um impacto bem maior do que o meramente físico. Mas o marido de Lilith não conhecia os prelúdios do desejo sensual, não conhecia nenhum dos estimulantes que certas naturezas selvagens reclamam e, desse modo, em vez de responder-lhe tão logo visse seus cabelos se eriçarem, seu rosto mais vívido, seus olhos como duas tochas de fogo, seu corpo inquieto e impaciente como o de um cavalo que aguardasse o início da corrida, ele se refugiava atrás do muro da compreensão objetiva, dessa tranqüila e irritante atitude de aprovação com a qual as pessoas olham para um animal no zoológico e riem de suas momices, sem penetrar em seu estado interior.
Era isso que deixava Lilith num estado de isolamento – na verdade, como um animal selvagem em pleno deserto. Quando ela se enfurecia e sua temperatura subia, o marido simplesmente deixava de existir. Ele mais parecia uma branda divindade que a olhasse dos céus e aguardasse que sua fúria se exaurisse por si mesma.
Se ele, feito um animal igualmente primitivo, surgisse na outra extremidade desse deserto, encarando-a com a mesma tensão energética nos cabelos, na pele e nos olhos, se surgisse com o mesmo corpo selvagem, pisando fortemente e procurando um único pretexto para dar o bote, enlaçar-se furiosamente, sentir o calor e a força de seu oponente, então eles poderiam rolar juntos pelo chão e as mordidas poderiam tornar-se de outra espécie, e a luta se transformaria num abraço, e os puxões de cabelo fariam com que suas bocas, seus dentes e suas línguas se unissem.
– Anais Nin
Trechos de obras literárias de Henry Miller

"Hoje sinto orgulho que dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade – eu pertenço à terra! (...)
Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça pra baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corrói as entranhas. (...) E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e à ausência de vida.
(...) Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa pobre, triste, miseravel, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos.
(...) Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucuras, um mundo que produza êxtase e não peidos secos.
(...) Que os mortos comam os mortos. Dancemos nós os vivos, à beira da cratera, uma última e agonizante dança. Mas que seja uma dança!” Trópico de Câncer
"Depois que nos livramos do fantasma, tudo segue com infalível certeza, mesmo no meio do caos. Desde o começo nunca houve se não caos: era um fluido que me envolvia, que eu aspirava através das guelras. No substrato, onde a lua brilhava firme e opaca, tudo era fluente e fecundante; acima dele, era confusão e discórdia. Em tudo eu via logo o oposto, a contradição, e entre o real e o irreal via a ironia, o paradoxo. Eu era meu pior inimigo." Trópico de Capricórnio
“Desejava que o olhos se extinguisse para que eu pudesse ter oportunidade de conhecer meu próprio corpo, mesu próprios desejos. (...) Desejava ardentemente alguma coisa desta terra que não trouxesse a marca de fábrica do homem, algo absolutamente divorciado do humano de que eu já estava farto. (...) Desejava sentir o sangue refluindo em minhas veias, mesmo à custa de aniquilação.” Trópico de Câncer
"Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos. Há um ano, háseis meses, eu pensava ser um artista. Não penso mais nisso. Eu sou. Tudo quanto era literatura se desprendeu de mim. Não há mais livros a escrever, graças a Deus.
E isto, então? Isto não é um livro. Isto é uma injúria, calúnia, difamação de caráter. Isto não é um livro, no sentindo comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto, uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza... e do que mais quiserem. Vou cantar para você, um pouco desafinado talvez, mas vou cantar. Cantarei enquanto você coaxa, dançarei sobre seu cadáver sujo...". Introdução a Trópico de Câncer
Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça pra baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corrói as entranhas. (...) E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e à ausência de vida.
(...) Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa pobre, triste, miseravel, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos.
(...) Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucuras, um mundo que produza êxtase e não peidos secos.
(...) Que os mortos comam os mortos. Dancemos nós os vivos, à beira da cratera, uma última e agonizante dança. Mas que seja uma dança!” Trópico de Câncer
"Depois que nos livramos do fantasma, tudo segue com infalível certeza, mesmo no meio do caos. Desde o começo nunca houve se não caos: era um fluido que me envolvia, que eu aspirava através das guelras. No substrato, onde a lua brilhava firme e opaca, tudo era fluente e fecundante; acima dele, era confusão e discórdia. Em tudo eu via logo o oposto, a contradição, e entre o real e o irreal via a ironia, o paradoxo. Eu era meu pior inimigo." Trópico de Capricórnio
“Desejava que o olhos se extinguisse para que eu pudesse ter oportunidade de conhecer meu próprio corpo, mesu próprios desejos. (...) Desejava ardentemente alguma coisa desta terra que não trouxesse a marca de fábrica do homem, algo absolutamente divorciado do humano de que eu já estava farto. (...) Desejava sentir o sangue refluindo em minhas veias, mesmo à custa de aniquilação.” Trópico de Câncer
"Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos. Há um ano, háseis meses, eu pensava ser um artista. Não penso mais nisso. Eu sou. Tudo quanto era literatura se desprendeu de mim. Não há mais livros a escrever, graças a Deus.
E isto, então? Isto não é um livro. Isto é uma injúria, calúnia, difamação de caráter. Isto não é um livro, no sentindo comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto, uma cusparada na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza... e do que mais quiserem. Vou cantar para você, um pouco desafinado talvez, mas vou cantar. Cantarei enquanto você coaxa, dançarei sobre seu cadáver sujo...". Introdução a Trópico de Câncer
terça-feira, 9 de março de 2010
Utopia e Paixão
" Estamos hoje certo de que o amor não foi feito para ser compreendido, mas apenas vivido. No instante que começamos a decifrá-lo, ele já acabou. Essa é a nossa experiência. Por isso afirmamos: do amor só se pode fazer necrópsia, jamais biopsia."
Assinar:
Postagens (Atom)