terça-feira, 25 de maio de 2010


"Quando Morgana deixou a corte de Artur, em Caerleon, pedindo licença apenas para fazer uma visita a Avalon e à sua mãe adotiva, pensava em Viviane - pois assim, evitava lembrar-se do que acontecera a ela mesma e a Lancelote. Sempre que as recordações a  levavam nessa direção, sentia como se  estivesse sendo queimada com o ferro em brasa da vergonha: oferecera-se a ele com toda a sinceridade, à maneira antiga, ele não quisera dela mais do que brincadeiras infantis, que era um escárnio à sua feminilidade. Não sabia se a irritação era contra ele ou contra ela própria, mas sabia ser motivada pelo boato de ter Lancelote brincado assim com ela, e por tê-lo desejado tanto..."
                    As brumas de Avalon - A grande Rainha

É, Morgana, sei bem como você se sentiu.
                                          

sábado, 8 de maio de 2010

A DANÇARINA


"Um dia, veio à corte do Príncipe de Birkasha, uma dançarina e seus músicos. ...e ela foi aceita na corte...e ela dançou a música da flauta, da cítara e do alaúde.

Ela dançou a dança das chamas e do fogo, a dança das espadas e das lanças; e ela dançou a dança das flores ao vento.

Ao terminar, virou-se para o príncipe e fez uma reverência. Ele então, pediu-lhe que viesse mais perto e perguntou-lhe: 'Linda mulher, filha da graça e do encantamento, de onde vem tua arte e como é que comandas todos os elementos em seus ritmos e versos?

A dançarina aproximou-se, e curvando-se diante do príncipe disse: Majestade, respostas eu não tenho às vossas perguntas. Somente isso eu sei: a alma do filósofo vive em sua cabeça, a alma do poeta vive em seu coração, a alma do cantor vive em sua garganta, mas a alma da dançarina habita em todo o seu corpo.”

Extraído do livro "O Viajante" de Khalil Gibran
Tradução: C.Offner

sexta-feira, 7 de maio de 2010

IDADE DO SONHO

Tens perfil de alameda. Nos teus olhos correm
gotas de luz e mel, a procurar o dia,

e como a terra e o mar, que estranhos se percorrem,
és líquido e perene em minha fantasia.


De ti, uma pantera surge no menino
em que descansas. Braços de floresta antiga
são teus gestos de musgo onde teço meu hino
e em teu mistério verde o meu medo se abriga.


Por certo vou temer-te. És pântano selvagem
embora de doçura; se eu seguir teu rumo
afundarei sozinha em névoas de miragem.

Para poder tocar-te é necessária a idade
do sonho. Mas em vão eu ando e te resumo
pisando em minha volta a espessa realidade.


Lupe Cotrim