sexta-feira, 9 de abril de 2010

Emily Brontë

"Você será sempre jovem enquanto o amor florir em sua vida, quanto irradiar beleza, coragem, otimismo e alegria.
E saiba que ser jovem é um privilégio, ser formosa um patrimônio, ser encantadora, tua melhor virtude.
Tua amizade é para mim tão importante que não quero deixar de compartilhá-la mais mil ano contigo..."

                                                                                                                                      04/2010.

Ally, quando recebi o livro Morro dos Ventos uivantes com esta dedicatória, fiquei muito feliz em saber que tenho amiga como você por perto, não nos conhecemos a bastante tempo, mas já partilhamos de muitas coisas juntas, desde o cachorro quente no Márcio, até as lágrimas.

Te adoro muito, minha amiga, saiba que sempre terá minha amizade!

Beijos,
             Ana.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Keith Richards diz em autobiobrafia que quer ser bibliotecário


Segundo o 'Sunday Times', durante a juventude na Inglaterra do pós-guerra, o roqueiro se refugiava na leitura

O guitarrista Keith Richards, do Rolling Stones, tem o sonho secreto de ser
bibliotecário, diz o próprio em uma autobiografia que está prestes a ser publicada.

O guitarrista dos StonesSegundo a edição desta segunda, 5, do jornal inglês "The Sunday Times", o músico confessa no livro que, apesar de sua imagem de roqueiro, há anos cultiva uma paixão pelos livros e inclusive recebeu formação profissional para organizar os guardados em suas casas na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Em sua biografia, pela qual teria recebido US$ 7,3 milhões por antecipação, Richards explica que tentou aplicar um sistema utilizado pelos bibliotecários para ordenar seus livros, entre eles muitos sobre a história do rock e a 2.ª Guerra Mundial.

Além disso, Richards atuou como uma "biblioteca pública" ao emprestar exemplares de autores britânicos como Bernard Cornwell e Len Deighton para seus amigos, diz o jornal.

Segundo o "The Sunday Times", durante sua juventude na austera Inglaterra do pós-guerra, o roqueiro se refugiava na leitura antes de encontrar o blues.

Para Richards, "quando você cresce, há duas instituições que o afetam especialmente: a Igreja, que pertence a Deus, e a biblioteca, que pertence a você. A biblioteca pública é igualitária".


Fonte:Estadão

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ENTRE CIGARROS E VINHO...

...E ao som de No Rain do Blind melon...
Sim,"Todos nós temos um lugar no mundo."E o nosso é aqui nesse cemitério onde encontramos a paz entre garrafas de conhaque,vinho e absinto apreciando a luz da Lua.Rimos e choramos,debochamos da rotina.Somos livres e a liberdade,nosso grande prêmio,é a nossa essência,e está dentro de nós por definitivo.

I just want some one to say to me,oh oh oh oh
"I'll always be there when you wake"

Entre cigarros e vinho,livros e rock n' roll,vida e morte,poesia e realidade estamos aqui...

"...it's not sane,it's not sane..."

domingo, 4 de abril de 2010

Andrea Doria

"Às vezes parecia
Que, de tanto acreditar

Em tudo que achávamos tão certo
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir

Não queria te ver assim

Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada

Às vezes parecia

Que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto
Até chegar o dia em que tentamos ter demais
Vendendo fácil o que não tinha preço
Eu sei, é tudo sem sentido
Quero ter alguém com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir

É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei que tens também."

            Como cantei essa música!
            Daqui a três dias faço aniversário, e as músicas da minha adolescência ficam mais compreendidas. 
            O trecho em destaque é bem explicíto sobre o que eu sentia na época, não queria ninguém falso, mas alguém que me ouvisse sem me julgar, ou usasse o que eu dizia contra mim, e de como as coisas era mais "possíveis" para quem não tinha limites e medo de nada, pois eu seguia as minhas próprias leis na estrada errada que seguia.

Foto: Ian Curtis - Joy Division

Livro raro: antecedentes, propósitos e definições

(Por: Ana Virgínia Pinheiro

Bibliotecária da Divisão de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Publicada em: 14/10/2004 )




Que é livro raro? Esta é uma questão que atormenta bibliófilos, curadores de acervos e eventuais proprietários de itens avulsos. Trata-se de uma pergunta de difícil resposta, por causa de dois precedentes:



1) é impossível pré-determinar as características de um livro raro, porque cada livro é um universo restrito de manifestações culturais – originais e acrescentadas;



2) é difícil discernir sobre características postas em evidência, quando se tenta provar a raridade de um livro – os argumentos são frágeis, baseados no “inquestionável” pressuposto da antigüidade.



A evolução do livro contribuiu para a consagração de uma série de “mitos” relacionados a critérios de raridade bibliográfica, tais como:



1) “todo livro antigo é raro” – errado. Antigüidade não é sinônimo de raridade, nem garante o mérito de um livro. No final do século XVII e ao longo do XVIII, muitas edições eram panegíricas com o nome do patrocinador estampado na página de rosto; o texto, vez por outra, era truncado, incompreensível. Além disso, publicava-se de tudo; um bom exemplo é a obra de Johann Despauterius – um apanhado de tantos absurdos que seu nome, despautério, designa desconchavo, tolice, disparate, asneira; outro exemplo é a gramática de Aelius Donatus, multiplicada pela tipografia em tantos exemplares, em sucessivas edições, que é praticamente impossível não dispor de um exemplar – a popularidade do autor era tamanha que seu nome, donato, identifica qualquer gramática (PINHEIRO, 1998, P. 162).



2) “um livro é raro quando é o único existente no mundo” – errado. O acúmulo de títulos sem tratamento em bibliotecas de todo o mundo, formando coleções paralelas, viabiliza a ilusão da “inexistência” de títulos. As coleções paralelas e, no caso do colecionador particular, as coleções de bibliófilos são verdadeiros mistérios para a Bibliografia – podem estar repletas de cimélios.



A noção de raridade bibliográfica envolve tantos valores e circunstâncias, que é necessário formalizar uma metodologia para organizar esse conhecimento. O primeiro passo está em por em confronto os conceitos de raro, único e precioso (PINHEIRO, 1989, p. 20), distintos e, ao mesmo tempo, complementares.

Raro é aquilo que é tratado sob esta acepção em qualquer lugar – o que é raro no Brasil, também o é na América do Norte, na Europa, na Ásia. Único remete à idéia de “exemplar único conhecido”, relevando-se a existência de acervos potencialmente raros, não identificados, em bibliotecas, arquivos e museus, guardiães de livros. Quando se identifica um exemplar, não se pode ter a certeza de que ele seja efetivamente um exemplar único, no mundo (Cf. FLAUBERT, 19-?, p. 78-83). Precioso abrange as noções de posse e identidade. Cada curador de acervo deve encarregar-se de acumular aquelas coleções que, em princípio, seriam da sua exclusiva competência, em função da missão da pessoa (física ou jurídica) que representa. Por exemplo: compete ao bibliotecário de um banco captar e armazenar todos os títulos referentes à história daquele banco, de seus fundadores, de seus acionistas – que são, por isso, preciosos; compete à determinada biblioteca estadual captar todos os itens referentes ao estado que representa (autores naturais, obras locais, obras sobre o estado etc.), formando uma coleção exaustivamente personalista e, por isso, preciosa.

Esses conceitos que subsidiam critérios de raridade, devem ser avaliados sob as perspectivas do curador, do gerente da instituição ou “dono” do acervo; e do leitor. E, enfim, devem ser formalizadas recomendações metodológicas, que acumulem o universo de valores e circunstâncias envolvidas. Desse modo, propõe a consideração de:



1) limite histórico;

2)aspectos bibliológicos;

3) valor cultural;

4) pesquisa bibliográfica;

5) características do exemplar.



No âmbito do limite histórico, a cada século, o livro assumiu um novo aspecto.

Os séculos XV e XVI viram a adoção do papel de trapos como principal suporte do texto impresso, a introdução da página de rosto, da paginação, do título corrente; a substituição do incipit pelo título de partida e do explicit pelo colofão, da oposição romano/itálico, a imposição de letras ornadas (capitais ornamentadas e capitais historiadas) e o surgimento das alíneas, suavizando a página impressa. Os livros eram religiosos, de gramática, literatura profana e clássicos latinos e gregos (VERGER, 1999, p. 131-132), negociados a bom preço, mais pela qualidade do trabalho do impressor, do que pelos méritos do autor. A contrafação era um problema regular, que se tentava evitar com privilégios de edição e a alta qualidade dos materiais – no entanto, tudo era contrafeito: os privilégios eram desrespeitados, as marcas do impressor que configuravam uma garantia de proveniência eram copiadas e as marcas-d'água dos papéis utilizados na contrafação eram as mesmas da obra contrafeita (cf. McMURTRIE, 1982; MARTÍNEZ DE SOUSA, 1992). No século XVII, surgiram as folhas volantes, os almanaques e, finalmente, o jornal, com a mesma concepção gráfica do livro. É o século das bibliotecas privadas como “sinal de poder” (CHARTIER, 1996, p. 90) e da estruturação dos catálogos de bibliotecas (cf. MUKHERJEE, 1966, p. 105).

O século XVIII é o período áureo de estabelecimento de grandes bibliotecas, é o século dos “incunábulos” brasileiros (cf. MARTINS, 1996, p. 299-306). O livro era pequeno ou de médio porte e documentou a ascensão da ilustração, a organização da página impressa, a projeção popular do texto e a edição monumental, com vinhetas de extrema beleza. A bibliofilia ascendeu como um privilégio de poucos, que cultuavam o livro como obra de arte. O livro era valorizado por sua beleza e era sobejamente aceita a associação de belo e bom. O século XIX é o século da imprensa, do papel de polpa de madeira, da padronização e simplificação do livro e das edições copiosas (cf. ORTEGA Y GASSET apud HORTA, 1998); é o século da imprensa oficial no Brasil e do colecionismo erudito, baseado nas idéias de que “não há livro belo se o texto não é bom [...] [e de que] o livro belo não deve ser produzido apenas para os afortunados do mundo” (PELLÉTAN apud CALOT; MICHON; ANGOULVENT, 1931, p. 190). O século XX impõe ao livro uma estética “industrial”, de sucessivas edições, em um processo mais ou menos contínuo de substituição. O livro é o livro das coleções, a memória impressa salvaguardada nas bibliotecas. Inicialmente, é considerado por sua materialidade, como objeto (cf. ESCARPIT, 1976), desejado por bibliófilos movidos pelo prazer do livro e por bibliomaníacos, movidos pela obsessão do colecionismo (cf. DIAS, 1994, p. 9). Depois, é visto como um monumento, uma objetivação, onde a associação de texto e suporte é indissolúvel, oferecendo não apenas o texto explícito, legível, mas uma intertextualidade, com uma informação “visível”, implícita no suporte e em todos os materiais agregados; enfim, o escrito e o inscrito, o espírito e a carne, a informação e a revelação, o que está escrito e o que é.



Esse modo de "ler" o livro ressalta os aspectos bibliológicos que o identificariam como raridade, toda vez em que é visto como:



a) um investimento, onde seu “valor monetário, associativo ou simbólico” (OGDEN, 1997, p. 6) é definido pelo interesse, original ou provocado, de um mercado restrito e silencioso;



b) uma relíquia, um artefato belo e luxuoso, um objeto de veneração, “para ver e tocar” (ROBERT, 1936 apud CASTAGNINO, 2001) – prática do bibliófilo; ou “um deleite para os olhos” (DARNTON, 1999) – prática comum nas instituições de guarda;

c) um símbolo de status – marcado pelo caráter “elitizante” que o colecionismo do livro raro favorece.



A noção de valor cultural marcou o livro o final do século XIX e início do século XX, entendido como “documento de uma nova realidade [...], uma cópia do mundo” (OTLET, 1934). A consideração do valor cultural de uma obra releva suas características estruturais – classe e tipo de publicação, composição, volume e forma; e substantivas – proveniência, origens funcionais (autor ou editor ilustre ou mal afamado), data e lugar da produção e singularidades ou tratamento do assunto; além de concentrar o risco de expressar o gosto fácil e acrítico da mentalidade dominante. O valor cultural confunde-se com o “valor de memória”, que só pode ser atribuído ao livro no âmbito da instituição guardiã, como síntese de seu universo. A abordagem do livro sob o ponto de vista da pesquisa bibliográfica releva a necessidade de situá-lo no contexto de “um universo inventariado” (CHARTIER; ROCHE, 1995, p. 107), atribuindo-lhe um valor intrínseco; parte-se do pressuposto de que todos os livros um dia impressos foram arrolados em bibliografias gerais, regionais e especializadas e em catálogos e inventários de bibliotecas, de livrarias e de leilões (cf. DIAS, 1994, p. 59-72). A pesquisa bibliográfica pode levar à identificação de exemplares disponíveis no mundo, à inferência de que o item em mãos é uma "obra desaparecida", ou revelar que é um item de suprema raridade. Mas, como a Bibliografia não é uma ciência exata, vale lembrar que são muitos os livros que não foram e jamais serão objeto de inventário ou catalogação. As características do exemplar, do item em mãos, reiteram a noção de raridade pelo caráter monumental do livro, verificável em todas as inserções, subtrações, complementações que não compunham o livro no momento seguinte à conclusão de sua produção – tais como: marcas de propriedade e procedência (ex libris, super libris, ex dono), marcas de artífices ulteriores à produção do livro (encadernadores, restauradores, livreiros), marcas de leitura (notas, sinais de destaque, correções, alterações), encadernações originais, exóticas e luxuosas, imperfeições acidentais ou provocadas.



De todos os critérios para o estabelecimento de raridade bibliográfica propostos (limite histórico, aspectos bibliológicos, valor cultural, pesquisa bibliográfica e características do exemplar), o limite histórico e os aspectos bibliológicos são supervalorizados em detrimento dos demais (cf. HOUAISS, 1983; PÉREZ-REVERTE, 1995, p. 131). Nas bibliotecas, um livro é raro porque é antigo ou belo.



A Biblioteconomia de Livros Raros, disciplina metodologicamente afirmada, aglutinando estudos absolutamente essenciais sobre a história das bibliotecas e sobre a produção, circulação, captação e acesso ao escrito e ao impresso (cf. RICHARDSON JR et al., 2001; LISBOA, 1997, p. 106), não tem sido objeto do interesse dos curadores de acervos, que acentuam suas ações no sentido de preservar o livro antes de identificar sua natureza – e a natureza do livro depende do uso que se fará dele. A biblioteca de livros raros, como “o lugar do livro preservado”, enfrenta a dupla missão, aparentemente contraditória, de salvaguarda do livro e de garantia de acesso (CAMPOS, 1997, p. 207). Dentro dessa lógica,

a preservação dos documentos importa mais do que o acesso [... como se a salvaguarda do documento não pudesse] ser perturbada pela efemeridade dos [...] interesses e necessidades [do leitor], por muito respeitáveis que sejam. Há, pois, dificuldade em conciliar a preservação das entidades documentais com a difusão do conhecimento armazenado (SILVA, 1997, p. 118).



O concurso de ações de preservação e de organização do conhecimento, à luz da Biblioteconomia de Livros Raros, deve refletir-se na política e nas linhas de acervo. A falta dessas definições leva ao colecionismo mórbido e nostálgico, onde tudo deve ser guardado e nada pode ser subtraído, desencadeando o inevitável colapso da biblioteca como organismo vivo que é (cf. RANGANATHAN, 1960; JACOB, 2000, p. 13).

A política de acervo implica na formalização de critérios para o planejamento e desenvolvimento de coleções (VERGUEIRO, 1989, p. 25; CHILD, 1997, P. 11), tais como: missão e comprometimento institucional, singularidade do acervo, importância científica e cultural e valor permanente das coleções (OGDEN, 1997, p. 5-6). A linha de acervo consiste na definição de conteúdos dos itens e formatos que podem ser incorporados, atendendo aos objetivos institucionais. Os acervos resultantes, organizam-se em coleções de origens múltiplas, integradas ou não.

Desde Alexandria, as bibliotecas eram organizadas por proveniência – as coleções eram arranjadas segundo o colecionador original, sem qualquer possibilidade de descarte; até que, em meados do século XVIII, esse hábito foi abandonado e se organizou a biblioteca por assuntos, integrando-se as coleções. No entanto, a continuada aquisição de coleções de livros raros e a ocorrência de títulos dobrados provocaram a segmentação da biblioteca por datas, determinadas mais em função do espaço disponível para armazenamento do que pela História do Livro (MCKITTERICK, 2000, p. 103, 104). Obviamente, esse procedimento levou à exaustão dos espaços e à situação crítica de estabelecimento de processos seletivos que, por sua vez, podem envolver questões de caráter jurídico quanto às garantias de propriedade pela Biblioteca como, por exemplo, o recebimento de coleções condicionado à satisfação de interesses do “dono”, tais como a configuração da coleção como uma “biblioteca-museu” (cf. VRCHOTRA, 1983) e a restrição de acesso; ou a reclamação de propriedade por herdeiros de antigos colecionadores. Essas probabilidades devem ser consideradas antes, durante e depois da incorporação, à luz dos interesses da biblioteca, mediante a formalização de um guia das coleções que a compõem.



Um bom exemplo a ser resgatado é a história da doação da Biblioteca Imperial brasileira a três instituições, pelo próprio Imperador, que assim definiu seu destino:



[...] // Queria pedir em meu nome ao Visconde de Taunay, Visconde de Beaurepaire, Olegario Herculano de Aquino e Castro, e Dr. João Severiano da Fonseca que separem os meus livros podendo por sua especialidade interessar ao Instituto [Histórico] e lh’os entreguem, afim de serem parte de sua bibliotheca. Esses livros serão collocados em lugar especial com a denominação de D. Thereza Christina Maria. Os que não deverem pertencer ao Instituto ofereço-os á Bibliotheca Nacional, que deverá colocal-os tambem em lugar especial com a mesma denominação. // O meu Museu dou-o tambem ao Instituto Historico no que tenha relação com a chorographia e historia do Brazil. A parte relativa ás sciencias naturaes e á mineralogica sob o nome de “Imperatriz Leopoldina”, como todos os herbarios, que possuo, fica para o Museu do Rio [Museu Nacional]. // [...] // D. Pedro d’Alcantara // Versailles 8 de Junho de 1891 (PEDRO II, 1891).



A parte que coube à Biblioteca Nacional, múltipla sob o ponto de vista dos suportes, incluía muitas partituras com o ex dono da Imperatriz Leopoldina, mãe de D. Pedro II, (FIGUEIRA,1999, p. 1) e outros tantos volumes com o Carimbo da Real Bibliotheca, trazida para o Brasil com a corte de D. João; contava em 48.236 volumes, além de brochuras, folhetos avulsos, fascículos, estampas, músicas e mapas geográficos impressos e manuscritos. A maior coleção doada à Biblioteca Nacional (CALAZANS, 1937?, p. 9) não foi colocada em “lugar especial”, como desejou o Imperador, foi diluída no acervo segundo seus suportes e datas, e parte significativa de seus itens foi identificada por ex libris atribuído, com a denominação “D. Thereza Christina Maria”. Mas, que tratamento foi dado às outras duas partes pelo Instituto Histórico e pelo Museu Nacional (cf. UNIVERSIDADE, 2001)? Até que ponto essas três partes ainda se complementam?



Quanto ao acesso às coleções de livros raros, os procedimentos biblioteconômicos que o antecedem refletem, muitas vezes, certa negligência, que se materializa em ações observadas no dia-a-dia das bibliotecas, contrários a quaisquer políticas de preservação. A solução certamente perpassa pelo treinamento de bibliotecários e leitores, para melhor aproveitamento das potencialidades e uso erudito e disciplinado das coleções. Até que isso ocorra, os curadores de acervos vêm praticando uma rotina de “conservação” – de fundamentação pouco ou nada científica – que implica na restrição ou no impedimento de acesso, determinados:



1) pela idade do leitor – o acesso é impedido, com base na “tradição européia”, de bibliotecas que datam do período medieval, quando o livro era um privilégio de poucos “iniciados”. Atualmente, com a evolução do conceito de biblioteca cidadã e como conseqüência de valores oriundos da globalização da economia, da ciência e da cultura, as bibliotecas que buscam uma conotação “mundial” já oferecem acesso irrestrito, através da geração de “segundo suporte”;



2) pela formação do leitor – o acesso é restrito ao “leitor de alto nível”, embora os referenciais utilizados para medir esse grupo sejam por demais indefinidos. Há uma tentativa de classificar nesse grupo os leitores de nível superior ou em nível de pós-graduação, mas, a bem da verdade, a prática vem registrando que muitas das vezes esses “leitores de alto nível” são tão inexperientes no trato e no manuseio de coleções raras quanto o seria um leitor de livros “de pano”;



3) pelo estado físico do item – o acesso é impedido quando o item não apresenta condições de manuseio – é o caso de páginas que se despedaçam ao toque ou que se apresentam rendilhadas. Geralmente, o impedimento não é temporário mas, definitivo, sem que qualquer procedimento seja tomado, de imediato, no sentido de resgatar o item à condição de acesso, por razões que vão desde a falta de recursos à inexistência de técnicas pertinentes de restauro. O item, nessas circunstâncias, é condenado à prisão perpétua, isto é, ao degredo em cofres ou armário selados pelo tempo de vida inútil que lhe restar.



É importante destacar que as políticas de acervo, no âmbito do acesso e do manuseio do livro raro, recomendam “conservar para não restaurar”, na medida em que a restauração atinge, apenas, o suporte e não a informação.

No entanto, o tratamento dispensado ao livro raro por boa parte dos curadores de acervos leva à interpretação de que a restauração é o destino imutável do livro que, como fênix, renasceria para o universo da transmissão do conhecimento, “curado” das ações do tempo, do bicho e do homem. Como intervenção, a restauração é a recusa da morte física do suporte, uma tentativa de neutralização dos efeitos do tempo e da negligência evidenciados em seu aspecto momentâneo, a busca e a definição, as vezes sublime, de uma “falsa” aparência original. Em contraposição, a idéia de raridade aplicada ao livro reconhece-lhe uma “dimensão humana”, que implica em uma realidade comum às “formas de vida orgânica”, onde o tempo, aliado às contingências de percurso, é o “escultor” do livro, atribuindo-lhe a “verdadeira” aparência de quem registra uma memória particular (cf. YOURCENAR, 1985, p. 53-59).



Essas idéias levam à noção de que sempre haverá, com a restauração de um livro raro, um ganho e uma perda. A restauração de um livro raro deve ocorrer, apenas, quando indispensável, e a conservação escrupulosa deve ser um exercício quotidiano de responsabilidade. Tais procedimentos suscitam perplexidades e dúvidas quanto às competências da biblioteca de livros raros e de seus curadores, como guardiães de memória cultural, e encerram angustiante problemática: qual o futuro do livro raro no Brasil?



Sabe-se que também não há resposta para esta questão, porque o caminho que leva à solução ainda não está pronto – como num labirinto, vislumbra-se o caminho a medida em que se caminha...