quarta-feira, 14 de abril de 2010

  Profundamente inseguro ou descaradamente manipulador, Lord Byron chocou o país com suas atitudes escandalosas. Mas a liberdade de espírito patente nos seus poemas e as facetas melodramáticas da sua vida inspiraram por toda a Europa uma geração inteira.

 

            Em 12 de julho de 1824, o sol iluminou uma fantástica procissão. Enquanto a multidão, silenciosa e triste, se juntava para ver o cortejo, cavalos negros como ébano, enfeitados com plumas também negras, puxavam um grande carro funerário através das ruas de Londres. Logo atrás, seguiam três carruagens com os amigos fiéris do morto. Depois, uma a uma, passaram as 47 carruagens das famílias mais nobres da Inglaterra; símbolos bizarros no funeral de um poetas hoemnageado pelo mundo, mas desprezado pelo seu próprio país, as carruagens iam vazias. Nas casas ao longo do caminho, as mulheres respeitáveis apenas ousavam espreitar o estranho ritual por entra as cortinas das janelas. Mesmo depois de morto George Gordon, Lord Byron, ainda era evitado pela alta sociedade.                                                                             
Durante quatro dias, o carro funerário, acompanhado agora somente pelos agentes funerários, prosseguiu solenemente para norte em direção a Nottingham. Nas pequenas volas do caminho, plebeus repeitosos juntavam-se para vê-lo passar, surpresos por ter sido negada a este poeta, o mias popular de sua época, a honra de ser sepultado no Canto dos Poetas da Abadia de Wetmisnter. Em vez disso, o seu corpo seria enterrado no jazigo da família, uma igreja humilde perto da casa dos seus antepassados.
          Tendo morrido aos 36 anos, durnate mais de quianze Byron fora adorado e desprezado, temido e imitado. Asua influência caracteizou uma época, e as suas idéias e comportamento pessoal antecederam as concepções do século XX sobre a independência nacional e da identidade individual.

Ascendência louca e variada
A libertinagem era uma especie de característica da família, vivida com frequência e entusiasmo na Abadia de Newstead, propriedade de 1.500 hectares e antigo mosteiro que tinham sido confiscados pelo rei Henrique VIII quando rejeitou a Igreja Católica de Roma no final do século XVI. O avô de Byron, explorador e oficial da marinha, conhecido por Foul-weather Jack, aterrorizado com os vícios de seu filho Jonh - que possívelemnte incluíam incesto - deserdou-o. Mas Mad Jack, como era conhecido o filho, raptou e fugiu com uma mulher rica. Esta morreu na França com doi dos seus filho, mas uma filha, Augusta, sobrevivei, vindo a desemprenhar na vida do poeta um papel de impacto que dezenas de anos depois, levaria à explosçai desta na alta sociedade.
         
                Sobrevivendo a tudo, Mad Jack voltou par a Inglaterra, onde casou com uma escocesa rica, mas pouco atrente, Catherine Gordon. Este novo casameento não terminou, no entanto, com sua vida de malandro, e a sua infeliz esposa passou a sofrer de grandes alteraçãoes de humor. Foi deste estranho matrimônio que, em 22 de Janeiro de 1788, nasceu George Gordon, o futuro Lord Byron.
           A criança nasceu envolvida pela bolsa d'água e sofrendo de uma má formação do pé direito devido a um músculo da perna definhado. A bolsa d'água não representava qualquer perigo e foi facilmente removida, mas Byron parecia gostar, mais rtade, de a considerar como presságio de um destino amaldiçoado. O pé torto, porém, provocou-lhe um trauma para toda a vida, contrastando irônica e cruelmente com a bela aparência geral que o tornou célebre.
           A sua infância foi atormentada por dorer atrozes, pois sua mãe, crédula, pagava charlatães para lhe esticar os músculos. Como que para compensar esse deficiência, o jovem fez tudo para ser um bom boxeador, bom cavaleiro e bom nadador. Adotou como hábito uma espécie de andar deslizante para disfarçar seu coxeio. E ou a sério ou por gostar de dramtizar sobre seu defeito, falava em mandar amputar o pé que o incomodava.
           Mad Jack saíra de casa quando o rapaz tinha 2 anos, pelo que este ficou sujeito ao humor imprevisível da mãe e às suas exigência caprichosas. Entretanto, um tio-avô herdara o título e a Abadia de Newstead.
           Abandonado pela esposa devido às suas aventuras extraconjugais, este tio deserdara o filho, que, tolamente, casara por amor, e não por dinheiro. As sua finaças estavam tão abaladas que se entretinha, na decadente abadia, a fazer corridas com baratas. Quando morreu, apesar disso a propriedade ainda estava intacta e o seu sobrinho-neto herdou-a: aos 10 anos, George Gordon tornava-se o sexto barão Byron.



Vinho de um crânio
Agora cheio de importância, o jovem foi um aluno arrogante e teimoso em Harrow, a sua escola preparatória, e um estudante emaginativamente rebelde na Aniversidade de Cambridge. Uma vez levou para a universidade um urso para irritar a direção por ter impedido a entrada do seu cão. Mas nessa época já escrevia poesia com extraordinária facilidade, tendo publicado sue primeiro volume de versos, Horas de Ócio, em 1807, ainda em Cambridge. Também na universidade se tornou evidente a sua rara capacidade para atrair grandes amizades e paixões. 
       
            Como muitos outros membros da nobreza rural da época, Byron passava dias inteiros sem fazer nada além de montar, esgremir, remar e caçar. As noites rema passadas na gandaia, com amigos da faculdade e o bando de atraentes e prestativas jovens criadas de sua propriedade. Com sua tendência para o drama, servia o vinho, depois do jantar, em crânio encostado em ouro. Quando todos os outros adormeciam ele ficava escrevendo até de manhã.
         Depois de tomar o seu lugar na Câmara dos Lordes, aos 21 anos, o jovem "cansado do mundo", embarcou para uma aventura pelo sul da Europa, com escalas em Portugal, Espanha, Malta, Grécia e Albânia. Considerândo-se romanticamente em "jovem amaldiçoado condenado ao exílio", sentiu-se imediatamente à vontade ao pisar solo grego, e em breve começa a trabalhar numa história em verso, A peregrinação de Childe Harold.
        Na época, a região era governada por um tirano cruel, o turco Ali Paxá, que se sentiu muito atrído pela beleza de Byron e lhe mandou presentes, na tenatativa de um encontro amoroso. O jovem aristrocrata desulpou-se habilmente, embora aparentemente fosse bissexual e não desprezasse necessariamente experiências homossexuais. Pouco depois disso, Byron naufragava na costa albanesa, próximo de Parga, onde encontrou e acompanhu um bando de rufiões vestindo trajes exóticos, os suliotas, cujo hino orgulhoso era Todos Ladrões em Parga! e que o escoltaram até Missolonghi, onde o destino, no fim da vida, voltaria a uni-lo com o bando.

A menina no saco
Pouco a pouco, Byron tinha se convertido num simpatizante do movimento nacionalista grego contra a Turquia. Os gregos, no seu país, eram pobres e duramente oprimidos; um patriota grego fora torturado duante três mess e depois cortado em pedaços; Byron vira o seu braço decepado pendurado numa árvore.
        Mas as suas crescente preocupações políticas surgiam em paralelo aos excessos dos seu comportamento pessoal. De novo em Atenas, Byron envolveu-se sexualmente com incontáveis mulheres, moças e até rapazes. Num dia memorável, encontrou um grupo de turcos que tranportavam em direção ao mar Egeu um saco que se mexia. Dentro dele ia uma moça condenada por adultério com um homeme cristão. O voivoda, ou governador, de Atenas condenara-a a ser afogada, de acordo com os costumes turcos. O jovem e rico inglês subornou os guardas, soltou a moça e, as escondidas libertou-a. Segundo um boato, quando o saco foi aberto, Byron espantado, teria reconhecido na moça uma das sua saventuras amorosas.
       Apesar destas distrações, ele acabara dois cantos ou seções, da sua novela poética, A peregrinação. Em versos fluidos e servndo-se da linguagem cotidiana em complicados padrões de rima, aquele malandro supostamente fútil criara uma personagem literária inesquecível. Harold, modelo dos futuros heróis românticos, é apaixonado embora reflexivo, egocentricamente orgulhoso, mas profundamnete só, ansioso por aventuras, embora cansado do mundo. Ele é, na realidade, a cópia do seu criador.

Famoso e acarinhado em Londres
Em Fevereiro de 1812, novamente na Inglaterra, o aristrocrata, então com 24 anos, fez seu discurso de estréia na Câmara dos Lordes, uma defesa muito elaborada dos tecelões de Nottingham que pouca atenção recebeu. Mas em breve o político inexperiente tornava-se um poeta famoso da noite para o dia. A primeira edição de A peregrinação de Child Harold esgotou-se em três dias, e o poeta viu-se soterrado de convites para as melhores casas de Londres.
          Byron estava preparado para representar a seu papel até o fim. Vestia-se sempre de preto e fingia viver só de água com gás e bolachas. (Na realidade, escapava para tabernas obscuras, onde engolia praros de mais substância, com carne e batatas.)Estava sempre pronto a chocar a dona da casa e os seus convidados com observaçãoes indecorosas ou sugestivas.
          Em breve, as suas aventuras com lindas mulheres casadas e empregadas eram o tema de conversa na cidade. Mas estas leviandades eram convenientemente ignoradas no mundo da alta sociedade, que considerava o adultério o seu passatempo favorito. Em 1813, Byron ignorou até mesmo essas tênues regras de decência.      
            
          Augusta, sua meia-irmã pelo primeiro casamento de Mad Jack, era física e temperamentalmente tão parecida com ele que Byron se habituou a considerá-la o seu alter ego, a sua própria imagem. Não sendo feliz no seu casamento, Augusta deixou-se envolver numa aventura com Byron. Quando se tornaram amantes, o poera achou que atingiria o "grande objetivo" da sua vida, uma união perfeita com outra pessoa. Augusta deu à luz uma filha, que possivelmente era de Byron.
         A franqueza com que o poeta falava do ssuto foi demasiado chocante, mesmo para uma sociedade permissiva, e ele tentou refugiar-se num casamento convencional com a jovem, rica e inexperiênte Annabella Milbanke. Tiveram uma filha, mas Annabella deixou-o ao fm de apenas um ano de casamento, aparentemente furiosa com os mais trato recebido e repelida pelas exigências sexuais de Byron. Por raz~eos nunca esclrecisas, Byron e Augusta foram juntos a uma recepção oferecida pela aristrocrática Lady Jersey. Todas as senhoras desapareceram  imediatamente da sala e os homens recusaram-se a aperta-lhes as mãos: o mais famoso poeta inglês tornara-se proscrito da sociedade.

Fuga para a Europa
Mais uma vez, Byron procurou no estrangeiro a liberdade e as emoções, partindo em 24 de Abril de 1816 do porto de Dover, no canal da Mancha, onde senhoras da sociedade se disfarçaram de criadas de quarto no seu hotal a fim de conseguirem ver o célebre poeta. Desprezado no seu país, Byron foi idolatrado no estrangeiro.
            Estabeleceu-se durante um tempo em Venza, mergulhando com fervor inabalável em todo tipo de ligações sexuais e outras formas de devassidão. Vaidoso, cada vez se preocupava mais com o cabelo, que caía, e a cintura que aumentava. Depois de fartas refeições, entrava em uma dieta rigorosa, prejudicando indubitavelmente a saúde. E pela última vez, apaixonou-se profunda e perdidamente. Jovem, bela e casada, a condessa Teresa Guiccioli partilhava com ele da tendência para o melodrama, e os seus encontros amorosos tinham lugar desde o Grande Canal aos refúgios à beira-mar, desde castelos a casas alugadas nas colinas.
           Durante esses anos, Byron escreveu o terciero canto de A Peregrinação, Manfredo e outros poemas conhecidos e começou o Don Juan, outro poema épico que se basearia muito nos seus sentimentos e experiências pessoais. Sempre fascinado pela morte, encontrou mais uma razão para sua morbidez: em 1822, Allegra, sua filha ilegítima e de Claire Clairmont, morreu de malária aos 5 anos. Pouco tempo depois, soube que o poeta Percy Bysshe Shellet, seu amigo e companheiro, morrera afogado, em uma espécie de tempestade, velejando no golfo de Spezia.
           A perda do amigo pode ter agravado o desencantamento que Byron sentia pela vida. Mergulhou na atividade literária, sempre estimulado com vinho ou gin e água. Mas a poesia não servia de consolo para sua avassaladora sensação de vazio.

O bardo da Grécia
Em parte devido aos incansáveis apelos de Byron ao longo doas anos, a opinião pública tanto na inglaterra como na Europa Ocidental acabara por se tornar favorável ao maltratado povo grego. Foram obtidos fundos, e quando a Comissão de Londres pela Grécia pediu ao grande escritor que colaborasse, ele aceitou com vigor.                                                                                  
          Em 16 de Julho de 1823, Byron fez-se ao mar no Hércules, navio fretado armado com dois canhões carregado com medicamntos, armas e munições. A melancolia do poeta desvaneceu-se durante a longa viagem entre Itália e a Grécia. No princípio do ano seguinte, ele encontrava-se em Missolonghi, a cidade pantanosa e infestada de mosquitos onde conhecera os audaciosos suliotas havia mais de 10 anos. Contratou imediatamnete 600 deles, mas os "ladrões de Parga" viram no seu navio uma boa presa. Passavam o tempo em maquinações para obter dinheiro e armas e tiveram de ser subornados para combater os próprios inimigos turcos. A tripulação do navio amontinou-se, os reforços da Inglaterra atrasaram-se e a política na terra grega revelou-se impossivelmente complexa e imprevisível.
       
            Mais de uma vez foi Byron quem, com sua presença e autoridade, e por vezes com rico de vida, evitou motins e trouxe a paz entre rivais no campo dos rebeldes. Mas a Natureza conseguiu o que homens e as armas não tinham conseguido: encharcado enquanto montava a cavalo num dia de chuva gélida, Byron contraiu uma febre que não mais o deixou. Insistindo com os médicos para que nãolhe fizesse sangrias - o tratamento habitual da época -, ele gracejava: "A lanceta tem matado mais gente que a lança." Mas os médicos insistiram, e o seu estado, como seira de calcular, pirorou com a continuação da suposta cura. A sua provação durou semanas. Para o fim, sussurrou ao médico: "Pensa mesmo, então, que temo pela minha vida? Porque deveria deplorá-la? Não aproveitei além de todos os limites?"

       Lord Byron morreu em 19 de Abril de 1824, no aniversário da morte de Allegra.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Emily Brontë

"Você será sempre jovem enquanto o amor florir em sua vida, quanto irradiar beleza, coragem, otimismo e alegria.
E saiba que ser jovem é um privilégio, ser formosa um patrimônio, ser encantadora, tua melhor virtude.
Tua amizade é para mim tão importante que não quero deixar de compartilhá-la mais mil ano contigo..."

                                                                                                                                      04/2010.

Ally, quando recebi o livro Morro dos Ventos uivantes com esta dedicatória, fiquei muito feliz em saber que tenho amiga como você por perto, não nos conhecemos a bastante tempo, mas já partilhamos de muitas coisas juntas, desde o cachorro quente no Márcio, até as lágrimas.

Te adoro muito, minha amiga, saiba que sempre terá minha amizade!

Beijos,
             Ana.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Keith Richards diz em autobiobrafia que quer ser bibliotecário


Segundo o 'Sunday Times', durante a juventude na Inglaterra do pós-guerra, o roqueiro se refugiava na leitura

O guitarrista Keith Richards, do Rolling Stones, tem o sonho secreto de ser
bibliotecário, diz o próprio em uma autobiografia que está prestes a ser publicada.

O guitarrista dos StonesSegundo a edição desta segunda, 5, do jornal inglês "The Sunday Times", o músico confessa no livro que, apesar de sua imagem de roqueiro, há anos cultiva uma paixão pelos livros e inclusive recebeu formação profissional para organizar os guardados em suas casas na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Em sua biografia, pela qual teria recebido US$ 7,3 milhões por antecipação, Richards explica que tentou aplicar um sistema utilizado pelos bibliotecários para ordenar seus livros, entre eles muitos sobre a história do rock e a 2.ª Guerra Mundial.

Além disso, Richards atuou como uma "biblioteca pública" ao emprestar exemplares de autores britânicos como Bernard Cornwell e Len Deighton para seus amigos, diz o jornal.

Segundo o "The Sunday Times", durante sua juventude na austera Inglaterra do pós-guerra, o roqueiro se refugiava na leitura antes de encontrar o blues.

Para Richards, "quando você cresce, há duas instituições que o afetam especialmente: a Igreja, que pertence a Deus, e a biblioteca, que pertence a você. A biblioteca pública é igualitária".


Fonte:Estadão

quarta-feira, 7 de abril de 2010

ENTRE CIGARROS E VINHO...

...E ao som de No Rain do Blind melon...
Sim,"Todos nós temos um lugar no mundo."E o nosso é aqui nesse cemitério onde encontramos a paz entre garrafas de conhaque,vinho e absinto apreciando a luz da Lua.Rimos e choramos,debochamos da rotina.Somos livres e a liberdade,nosso grande prêmio,é a nossa essência,e está dentro de nós por definitivo.

I just want some one to say to me,oh oh oh oh
"I'll always be there when you wake"

Entre cigarros e vinho,livros e rock n' roll,vida e morte,poesia e realidade estamos aqui...

"...it's not sane,it's not sane..."

domingo, 4 de abril de 2010

Andrea Doria

"Às vezes parecia
Que, de tanto acreditar

Em tudo que achávamos tão certo
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços de vidro
Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir

Não queria te ver assim

Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada

Às vezes parecia

Que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto
Até chegar o dia em que tentamos ter demais
Vendendo fácil o que não tinha preço
Eu sei, é tudo sem sentido
Quero ter alguém com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim

Nada mais vai me ferir

É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei que tens também."

            Como cantei essa música!
            Daqui a três dias faço aniversário, e as músicas da minha adolescência ficam mais compreendidas. 
            O trecho em destaque é bem explicíto sobre o que eu sentia na época, não queria ninguém falso, mas alguém que me ouvisse sem me julgar, ou usasse o que eu dizia contra mim, e de como as coisas era mais "possíveis" para quem não tinha limites e medo de nada, pois eu seguia as minhas próprias leis na estrada errada que seguia.

Foto: Ian Curtis - Joy Division

Livro raro: antecedentes, propósitos e definições

(Por: Ana Virgínia Pinheiro

Bibliotecária da Divisão de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Publicada em: 14/10/2004 )




Que é livro raro? Esta é uma questão que atormenta bibliófilos, curadores de acervos e eventuais proprietários de itens avulsos. Trata-se de uma pergunta de difícil resposta, por causa de dois precedentes:



1) é impossível pré-determinar as características de um livro raro, porque cada livro é um universo restrito de manifestações culturais – originais e acrescentadas;



2) é difícil discernir sobre características postas em evidência, quando se tenta provar a raridade de um livro – os argumentos são frágeis, baseados no “inquestionável” pressuposto da antigüidade.



A evolução do livro contribuiu para a consagração de uma série de “mitos” relacionados a critérios de raridade bibliográfica, tais como:



1) “todo livro antigo é raro” – errado. Antigüidade não é sinônimo de raridade, nem garante o mérito de um livro. No final do século XVII e ao longo do XVIII, muitas edições eram panegíricas com o nome do patrocinador estampado na página de rosto; o texto, vez por outra, era truncado, incompreensível. Além disso, publicava-se de tudo; um bom exemplo é a obra de Johann Despauterius – um apanhado de tantos absurdos que seu nome, despautério, designa desconchavo, tolice, disparate, asneira; outro exemplo é a gramática de Aelius Donatus, multiplicada pela tipografia em tantos exemplares, em sucessivas edições, que é praticamente impossível não dispor de um exemplar – a popularidade do autor era tamanha que seu nome, donato, identifica qualquer gramática (PINHEIRO, 1998, P. 162).



2) “um livro é raro quando é o único existente no mundo” – errado. O acúmulo de títulos sem tratamento em bibliotecas de todo o mundo, formando coleções paralelas, viabiliza a ilusão da “inexistência” de títulos. As coleções paralelas e, no caso do colecionador particular, as coleções de bibliófilos são verdadeiros mistérios para a Bibliografia – podem estar repletas de cimélios.



A noção de raridade bibliográfica envolve tantos valores e circunstâncias, que é necessário formalizar uma metodologia para organizar esse conhecimento. O primeiro passo está em por em confronto os conceitos de raro, único e precioso (PINHEIRO, 1989, p. 20), distintos e, ao mesmo tempo, complementares.

Raro é aquilo que é tratado sob esta acepção em qualquer lugar – o que é raro no Brasil, também o é na América do Norte, na Europa, na Ásia. Único remete à idéia de “exemplar único conhecido”, relevando-se a existência de acervos potencialmente raros, não identificados, em bibliotecas, arquivos e museus, guardiães de livros. Quando se identifica um exemplar, não se pode ter a certeza de que ele seja efetivamente um exemplar único, no mundo (Cf. FLAUBERT, 19-?, p. 78-83). Precioso abrange as noções de posse e identidade. Cada curador de acervo deve encarregar-se de acumular aquelas coleções que, em princípio, seriam da sua exclusiva competência, em função da missão da pessoa (física ou jurídica) que representa. Por exemplo: compete ao bibliotecário de um banco captar e armazenar todos os títulos referentes à história daquele banco, de seus fundadores, de seus acionistas – que são, por isso, preciosos; compete à determinada biblioteca estadual captar todos os itens referentes ao estado que representa (autores naturais, obras locais, obras sobre o estado etc.), formando uma coleção exaustivamente personalista e, por isso, preciosa.

Esses conceitos que subsidiam critérios de raridade, devem ser avaliados sob as perspectivas do curador, do gerente da instituição ou “dono” do acervo; e do leitor. E, enfim, devem ser formalizadas recomendações metodológicas, que acumulem o universo de valores e circunstâncias envolvidas. Desse modo, propõe a consideração de:



1) limite histórico;

2)aspectos bibliológicos;

3) valor cultural;

4) pesquisa bibliográfica;

5) características do exemplar.



No âmbito do limite histórico, a cada século, o livro assumiu um novo aspecto.

Os séculos XV e XVI viram a adoção do papel de trapos como principal suporte do texto impresso, a introdução da página de rosto, da paginação, do título corrente; a substituição do incipit pelo título de partida e do explicit pelo colofão, da oposição romano/itálico, a imposição de letras ornadas (capitais ornamentadas e capitais historiadas) e o surgimento das alíneas, suavizando a página impressa. Os livros eram religiosos, de gramática, literatura profana e clássicos latinos e gregos (VERGER, 1999, p. 131-132), negociados a bom preço, mais pela qualidade do trabalho do impressor, do que pelos méritos do autor. A contrafação era um problema regular, que se tentava evitar com privilégios de edição e a alta qualidade dos materiais – no entanto, tudo era contrafeito: os privilégios eram desrespeitados, as marcas do impressor que configuravam uma garantia de proveniência eram copiadas e as marcas-d'água dos papéis utilizados na contrafação eram as mesmas da obra contrafeita (cf. McMURTRIE, 1982; MARTÍNEZ DE SOUSA, 1992). No século XVII, surgiram as folhas volantes, os almanaques e, finalmente, o jornal, com a mesma concepção gráfica do livro. É o século das bibliotecas privadas como “sinal de poder” (CHARTIER, 1996, p. 90) e da estruturação dos catálogos de bibliotecas (cf. MUKHERJEE, 1966, p. 105).

O século XVIII é o período áureo de estabelecimento de grandes bibliotecas, é o século dos “incunábulos” brasileiros (cf. MARTINS, 1996, p. 299-306). O livro era pequeno ou de médio porte e documentou a ascensão da ilustração, a organização da página impressa, a projeção popular do texto e a edição monumental, com vinhetas de extrema beleza. A bibliofilia ascendeu como um privilégio de poucos, que cultuavam o livro como obra de arte. O livro era valorizado por sua beleza e era sobejamente aceita a associação de belo e bom. O século XIX é o século da imprensa, do papel de polpa de madeira, da padronização e simplificação do livro e das edições copiosas (cf. ORTEGA Y GASSET apud HORTA, 1998); é o século da imprensa oficial no Brasil e do colecionismo erudito, baseado nas idéias de que “não há livro belo se o texto não é bom [...] [e de que] o livro belo não deve ser produzido apenas para os afortunados do mundo” (PELLÉTAN apud CALOT; MICHON; ANGOULVENT, 1931, p. 190). O século XX impõe ao livro uma estética “industrial”, de sucessivas edições, em um processo mais ou menos contínuo de substituição. O livro é o livro das coleções, a memória impressa salvaguardada nas bibliotecas. Inicialmente, é considerado por sua materialidade, como objeto (cf. ESCARPIT, 1976), desejado por bibliófilos movidos pelo prazer do livro e por bibliomaníacos, movidos pela obsessão do colecionismo (cf. DIAS, 1994, p. 9). Depois, é visto como um monumento, uma objetivação, onde a associação de texto e suporte é indissolúvel, oferecendo não apenas o texto explícito, legível, mas uma intertextualidade, com uma informação “visível”, implícita no suporte e em todos os materiais agregados; enfim, o escrito e o inscrito, o espírito e a carne, a informação e a revelação, o que está escrito e o que é.



Esse modo de "ler" o livro ressalta os aspectos bibliológicos que o identificariam como raridade, toda vez em que é visto como:



a) um investimento, onde seu “valor monetário, associativo ou simbólico” (OGDEN, 1997, p. 6) é definido pelo interesse, original ou provocado, de um mercado restrito e silencioso;



b) uma relíquia, um artefato belo e luxuoso, um objeto de veneração, “para ver e tocar” (ROBERT, 1936 apud CASTAGNINO, 2001) – prática do bibliófilo; ou “um deleite para os olhos” (DARNTON, 1999) – prática comum nas instituições de guarda;

c) um símbolo de status – marcado pelo caráter “elitizante” que o colecionismo do livro raro favorece.



A noção de valor cultural marcou o livro o final do século XIX e início do século XX, entendido como “documento de uma nova realidade [...], uma cópia do mundo” (OTLET, 1934). A consideração do valor cultural de uma obra releva suas características estruturais – classe e tipo de publicação, composição, volume e forma; e substantivas – proveniência, origens funcionais (autor ou editor ilustre ou mal afamado), data e lugar da produção e singularidades ou tratamento do assunto; além de concentrar o risco de expressar o gosto fácil e acrítico da mentalidade dominante. O valor cultural confunde-se com o “valor de memória”, que só pode ser atribuído ao livro no âmbito da instituição guardiã, como síntese de seu universo. A abordagem do livro sob o ponto de vista da pesquisa bibliográfica releva a necessidade de situá-lo no contexto de “um universo inventariado” (CHARTIER; ROCHE, 1995, p. 107), atribuindo-lhe um valor intrínseco; parte-se do pressuposto de que todos os livros um dia impressos foram arrolados em bibliografias gerais, regionais e especializadas e em catálogos e inventários de bibliotecas, de livrarias e de leilões (cf. DIAS, 1994, p. 59-72). A pesquisa bibliográfica pode levar à identificação de exemplares disponíveis no mundo, à inferência de que o item em mãos é uma "obra desaparecida", ou revelar que é um item de suprema raridade. Mas, como a Bibliografia não é uma ciência exata, vale lembrar que são muitos os livros que não foram e jamais serão objeto de inventário ou catalogação. As características do exemplar, do item em mãos, reiteram a noção de raridade pelo caráter monumental do livro, verificável em todas as inserções, subtrações, complementações que não compunham o livro no momento seguinte à conclusão de sua produção – tais como: marcas de propriedade e procedência (ex libris, super libris, ex dono), marcas de artífices ulteriores à produção do livro (encadernadores, restauradores, livreiros), marcas de leitura (notas, sinais de destaque, correções, alterações), encadernações originais, exóticas e luxuosas, imperfeições acidentais ou provocadas.



De todos os critérios para o estabelecimento de raridade bibliográfica propostos (limite histórico, aspectos bibliológicos, valor cultural, pesquisa bibliográfica e características do exemplar), o limite histórico e os aspectos bibliológicos são supervalorizados em detrimento dos demais (cf. HOUAISS, 1983; PÉREZ-REVERTE, 1995, p. 131). Nas bibliotecas, um livro é raro porque é antigo ou belo.



A Biblioteconomia de Livros Raros, disciplina metodologicamente afirmada, aglutinando estudos absolutamente essenciais sobre a história das bibliotecas e sobre a produção, circulação, captação e acesso ao escrito e ao impresso (cf. RICHARDSON JR et al., 2001; LISBOA, 1997, p. 106), não tem sido objeto do interesse dos curadores de acervos, que acentuam suas ações no sentido de preservar o livro antes de identificar sua natureza – e a natureza do livro depende do uso que se fará dele. A biblioteca de livros raros, como “o lugar do livro preservado”, enfrenta a dupla missão, aparentemente contraditória, de salvaguarda do livro e de garantia de acesso (CAMPOS, 1997, p. 207). Dentro dessa lógica,

a preservação dos documentos importa mais do que o acesso [... como se a salvaguarda do documento não pudesse] ser perturbada pela efemeridade dos [...] interesses e necessidades [do leitor], por muito respeitáveis que sejam. Há, pois, dificuldade em conciliar a preservação das entidades documentais com a difusão do conhecimento armazenado (SILVA, 1997, p. 118).



O concurso de ações de preservação e de organização do conhecimento, à luz da Biblioteconomia de Livros Raros, deve refletir-se na política e nas linhas de acervo. A falta dessas definições leva ao colecionismo mórbido e nostálgico, onde tudo deve ser guardado e nada pode ser subtraído, desencadeando o inevitável colapso da biblioteca como organismo vivo que é (cf. RANGANATHAN, 1960; JACOB, 2000, p. 13).

A política de acervo implica na formalização de critérios para o planejamento e desenvolvimento de coleções (VERGUEIRO, 1989, p. 25; CHILD, 1997, P. 11), tais como: missão e comprometimento institucional, singularidade do acervo, importância científica e cultural e valor permanente das coleções (OGDEN, 1997, p. 5-6). A linha de acervo consiste na definição de conteúdos dos itens e formatos que podem ser incorporados, atendendo aos objetivos institucionais. Os acervos resultantes, organizam-se em coleções de origens múltiplas, integradas ou não.

Desde Alexandria, as bibliotecas eram organizadas por proveniência – as coleções eram arranjadas segundo o colecionador original, sem qualquer possibilidade de descarte; até que, em meados do século XVIII, esse hábito foi abandonado e se organizou a biblioteca por assuntos, integrando-se as coleções. No entanto, a continuada aquisição de coleções de livros raros e a ocorrência de títulos dobrados provocaram a segmentação da biblioteca por datas, determinadas mais em função do espaço disponível para armazenamento do que pela História do Livro (MCKITTERICK, 2000, p. 103, 104). Obviamente, esse procedimento levou à exaustão dos espaços e à situação crítica de estabelecimento de processos seletivos que, por sua vez, podem envolver questões de caráter jurídico quanto às garantias de propriedade pela Biblioteca como, por exemplo, o recebimento de coleções condicionado à satisfação de interesses do “dono”, tais como a configuração da coleção como uma “biblioteca-museu” (cf. VRCHOTRA, 1983) e a restrição de acesso; ou a reclamação de propriedade por herdeiros de antigos colecionadores. Essas probabilidades devem ser consideradas antes, durante e depois da incorporação, à luz dos interesses da biblioteca, mediante a formalização de um guia das coleções que a compõem.



Um bom exemplo a ser resgatado é a história da doação da Biblioteca Imperial brasileira a três instituições, pelo próprio Imperador, que assim definiu seu destino:



[...] // Queria pedir em meu nome ao Visconde de Taunay, Visconde de Beaurepaire, Olegario Herculano de Aquino e Castro, e Dr. João Severiano da Fonseca que separem os meus livros podendo por sua especialidade interessar ao Instituto [Histórico] e lh’os entreguem, afim de serem parte de sua bibliotheca. Esses livros serão collocados em lugar especial com a denominação de D. Thereza Christina Maria. Os que não deverem pertencer ao Instituto ofereço-os á Bibliotheca Nacional, que deverá colocal-os tambem em lugar especial com a mesma denominação. // O meu Museu dou-o tambem ao Instituto Historico no que tenha relação com a chorographia e historia do Brazil. A parte relativa ás sciencias naturaes e á mineralogica sob o nome de “Imperatriz Leopoldina”, como todos os herbarios, que possuo, fica para o Museu do Rio [Museu Nacional]. // [...] // D. Pedro d’Alcantara // Versailles 8 de Junho de 1891 (PEDRO II, 1891).



A parte que coube à Biblioteca Nacional, múltipla sob o ponto de vista dos suportes, incluía muitas partituras com o ex dono da Imperatriz Leopoldina, mãe de D. Pedro II, (FIGUEIRA,1999, p. 1) e outros tantos volumes com o Carimbo da Real Bibliotheca, trazida para o Brasil com a corte de D. João; contava em 48.236 volumes, além de brochuras, folhetos avulsos, fascículos, estampas, músicas e mapas geográficos impressos e manuscritos. A maior coleção doada à Biblioteca Nacional (CALAZANS, 1937?, p. 9) não foi colocada em “lugar especial”, como desejou o Imperador, foi diluída no acervo segundo seus suportes e datas, e parte significativa de seus itens foi identificada por ex libris atribuído, com a denominação “D. Thereza Christina Maria”. Mas, que tratamento foi dado às outras duas partes pelo Instituto Histórico e pelo Museu Nacional (cf. UNIVERSIDADE, 2001)? Até que ponto essas três partes ainda se complementam?



Quanto ao acesso às coleções de livros raros, os procedimentos biblioteconômicos que o antecedem refletem, muitas vezes, certa negligência, que se materializa em ações observadas no dia-a-dia das bibliotecas, contrários a quaisquer políticas de preservação. A solução certamente perpassa pelo treinamento de bibliotecários e leitores, para melhor aproveitamento das potencialidades e uso erudito e disciplinado das coleções. Até que isso ocorra, os curadores de acervos vêm praticando uma rotina de “conservação” – de fundamentação pouco ou nada científica – que implica na restrição ou no impedimento de acesso, determinados:



1) pela idade do leitor – o acesso é impedido, com base na “tradição européia”, de bibliotecas que datam do período medieval, quando o livro era um privilégio de poucos “iniciados”. Atualmente, com a evolução do conceito de biblioteca cidadã e como conseqüência de valores oriundos da globalização da economia, da ciência e da cultura, as bibliotecas que buscam uma conotação “mundial” já oferecem acesso irrestrito, através da geração de “segundo suporte”;



2) pela formação do leitor – o acesso é restrito ao “leitor de alto nível”, embora os referenciais utilizados para medir esse grupo sejam por demais indefinidos. Há uma tentativa de classificar nesse grupo os leitores de nível superior ou em nível de pós-graduação, mas, a bem da verdade, a prática vem registrando que muitas das vezes esses “leitores de alto nível” são tão inexperientes no trato e no manuseio de coleções raras quanto o seria um leitor de livros “de pano”;



3) pelo estado físico do item – o acesso é impedido quando o item não apresenta condições de manuseio – é o caso de páginas que se despedaçam ao toque ou que se apresentam rendilhadas. Geralmente, o impedimento não é temporário mas, definitivo, sem que qualquer procedimento seja tomado, de imediato, no sentido de resgatar o item à condição de acesso, por razões que vão desde a falta de recursos à inexistência de técnicas pertinentes de restauro. O item, nessas circunstâncias, é condenado à prisão perpétua, isto é, ao degredo em cofres ou armário selados pelo tempo de vida inútil que lhe restar.



É importante destacar que as políticas de acervo, no âmbito do acesso e do manuseio do livro raro, recomendam “conservar para não restaurar”, na medida em que a restauração atinge, apenas, o suporte e não a informação.

No entanto, o tratamento dispensado ao livro raro por boa parte dos curadores de acervos leva à interpretação de que a restauração é o destino imutável do livro que, como fênix, renasceria para o universo da transmissão do conhecimento, “curado” das ações do tempo, do bicho e do homem. Como intervenção, a restauração é a recusa da morte física do suporte, uma tentativa de neutralização dos efeitos do tempo e da negligência evidenciados em seu aspecto momentâneo, a busca e a definição, as vezes sublime, de uma “falsa” aparência original. Em contraposição, a idéia de raridade aplicada ao livro reconhece-lhe uma “dimensão humana”, que implica em uma realidade comum às “formas de vida orgânica”, onde o tempo, aliado às contingências de percurso, é o “escultor” do livro, atribuindo-lhe a “verdadeira” aparência de quem registra uma memória particular (cf. YOURCENAR, 1985, p. 53-59).



Essas idéias levam à noção de que sempre haverá, com a restauração de um livro raro, um ganho e uma perda. A restauração de um livro raro deve ocorrer, apenas, quando indispensável, e a conservação escrupulosa deve ser um exercício quotidiano de responsabilidade. Tais procedimentos suscitam perplexidades e dúvidas quanto às competências da biblioteca de livros raros e de seus curadores, como guardiães de memória cultural, e encerram angustiante problemática: qual o futuro do livro raro no Brasil?



Sabe-se que também não há resposta para esta questão, porque o caminho que leva à solução ainda não está pronto – como num labirinto, vislumbra-se o caminho a medida em que se caminha...